Powered By Blogger

domingo, 11 de julho de 2010

Alpha Protocolo



04


Os RPG’s ocidentais fizeram certamente um longo caminho até chegar ao patamar de qualidade que hoje exibem com orgulho. Histórias onde se viaja por universos distantes das possibilidades de um homem comum e onde as escolhas que se fazem influenciam o destino da personagem, dos amigos e aliados e, por fim, da história. No início deste ano, Mass Effect 2 abriu as hostilidades apresentando um produto com poucas falhas, tornando-se uma das referências no seu género. Agora, é a vez de Alpha Protocol, um RPG ocidental que não vos coloca no espaço ou a matar Orcs. Alpha Protocol é um RPG de acção dentro do universo da espionagem e das operações secretas. Mas será esta aventura da SEGA e da Obsidian uma ameaça para o comandante Shepard?

Para aqueles que não leram a antevisão de Alpha Protocol, aqui vai um pequeno resumo do que se passa neste universo. Vocês são Michael Thorton, um antigo agente governamental que é traído e expulso devido a um ataque terrorista contra um avião de passageiros. Após este incidente, acordam numa cama duma clínica de tratamento da unidade Alpha Protocol, uma agência de espionagem privada mas ligada ao estado Americano. Como novo recruta, e uma possível esperança, são atribuídos para uma missão onde têm de capturar o líder da célula terrorista, Al-Samad. O que acontece a partir daqui é um cruzar de enredos e de personagens que vão alterar constantemente o futuro da narrativa.

Começan do então pelo enredo, Alpha Protocol é, sem dúvida, a par de Mass Effect 2, um dos melhores jogos que joguei até hoje, onde a influência das vossas escolhas altera
sistematicamente o decorrer dos eventos. Posso dizer que na maior parte das vezes é impossível prever qual é a melhor abordagem em cada situação. As pessoas que vão encontrando pelo caminho são extremamente voláteis e, na sua maioria, muito bons a esgrimir argumentos. Vão ser surpreendidos, muitas vezes, com a informação de que disseram algo do qual o contacto não gostou muito ou escolher respostas rudes que resultam muito bem. Isto arrasta a narrativa para locais imprevisíveis pois cada pessoa conta, cada pergunta é essencial, e matar uma personagem ou deixá-la em liberdade tem um peso imenso.

Estas escolhas são feitas através de um menu de falas onde não aparece a resposta/pergunta, mas sim uma reacção. Isto torna ainda mais difícil antever o que virá depois. Os diálogos seguem caminhos do mais variado que podem imaginar, podendo prolongar-se até um acordo ou acabar, se decidirem partir para a acção e matar o interveniente antes que ele continue a falar. Isto dá a Alpha Protocol um maior sentido de urgência, além de fazer crescer antipatia ou simpatia com as personagens que vamos conhecendo. Há muito tempo que não jogava um jogo em que tinha tanta facilidade para memorizar os nomes, pois aqui criam-se laços com as personagens e há muita gente na qual vão querer meter uma bala entre os olhos, na próxima vez que os virem.
Ajuda que Alpha Protocol tenha uma história bem escrita e enraizada, cuja volatilidade consegue surpreender, pois mesmo que escolham fazer um percurso diferente, vão ouvir varias referências a situações onde a vossa escolha está em causa, ou mesmo ganhar inimigos ou aliados por matar alguém. À medida que perceberem como a história funciona, vão querer aliar-se a determinadas pessoas ou fazer tudo para agradar a outras. A influência é uma coisa muito útil, e, em Alpha Protocol, quanto mais explorarem as interacções, mais vão acabar por retirar deste universo.

No que toca à jogabilidade, Alpha Protocol não está muito longe de Mass Effect 2. A câmara vai acompanhar Michael Thorton pelas costas enquanto vão visitando os cenários e dando cabo das ameaças que vão aparecendo pelo caminho, ou seja, centenas de terroristas, mafiosos ou até forças especiais. Para tal, podem dar uso a um número considerável de armas, engenhocas e até as mãos. Girando em torno de tiroteios, uma das mecânicas que também aqui surge é a utilização de cobertura. Podem esconder-se atrás de quase todos os objectos ou paredes e disparar de lá, usando as vossas armas, sendo que podem saltar de protecção em protecção ou rebolar para fora da mesma.

Tal como um bom agente secreto, vocês vão ter ao vosso dispor algum arsenal com que podem equipar a vossa personagem para tornar as missões bem mais fáceis. Além de terem acesso a duas armas com três tipos de balas, têm ainda um lote recheado de várias engenhocas, como as granadas de fogo, descargas de EMP (pulso electromagnético), e até sensores de aproximação. Claro que quando tudo isto falha, há que dar uso aos punhos. Quando recorrem ao combate corpo-a-corpo, podem eliminar inimigos silenciosamente se forem furtivos, ou
partir para a pancadaria directa. Se for este o caso, vão ter de se preparar para encontrarem inimigos que se defendem bastante bem e aos quais só vão conseguir encaixar golpes se aproveitarem as brechas. À medida que forem progredindo no combate corpo-a-corpo, vão ganhando mais golpes e mais combinações que vão facilitar-vos imenso a vida.

Falando do sistema de evolução, Alpha Protocol vai-vos recompensando sistematicamente com pontos de experiência ou até de habilidade. Quando evoluem de nível, acumulando a experiência, vão poder gastar os pontos de habilidade (AP) em diversas linhas de progresso, como melhor uso de pistolas, metralhadoras, infiltração, combate corpo-a-corpo, resistência, entre muitas outras. Estas vão expandindo consoante a classe que escolherem a início, sendo que cada uma das disponíveis dá mais ênfase à infiltração ou ao ataque directo. Como tal, podem escolher a classe que se adapta melhor ao vosso estilo.

Além de armas e engenhocas, vão poder equipar na vossa personagem vários tipos de armaduras e apetrechos, como joalheiras, cotoveleiras, malhas e afins, o que vai influenciar atributos, como o barulho que fazem ao andar ou a pontaria. Estas influências notam-se claramente durante o jogo, dando-vos um escudo mais rijo, o que vos torna bem mais resistentes. Voltando às armas, estas também podem ser alteradas, equipando cartuchos mais longos ou silenciadores. Ou seja, podem ter o arsenal que preferirem e ainda melhorá-lo constantemente.

Algo com o qual se vão deparar frequentemente em Alpha Protocol é com os quebra-cabeças do jogo, os quais estão, na maioria das vezes, relacionados com o desligar de alarmes, abrir portas ou recolher informação encriptada de um computador. Como tal, existem três tipos de enigmas para resolver: o primeiro é a detecção da faixa directa entre os fios que leva aos números exactos, o segundo é a colocação de dois códigos num painel com números a mudar constantemente, e o terceiro é a abertura de fechaduras; neste carregam com o gatilho direito até ao local exacto e colocam o clip com o gatilho esquerdo. Estes quebra-cabeças são bastante acessíveis e divertidos, embora possam ficar bem mais complicados perto do fim. Felizmente, só os opcionais é que chegam ao ponto de dar dores de cabeça.
As missões de Alpha Protocol podem ser acedidas através da vossa Safe House (esconderijo), servindo esta até como uma zona para descansar entre missões, ler emails, ou falar com outras personagens do mundo de Alpha Protocol. Ao todo vão viajar por quatro locais diferentes do mundo, onde vão ter acesso a várias missões ao mesmo tempo ou a missões que fazem a história progredir. Quanto mais missões fizerem, mais contactos vão fazer e, como é lógico, vão acabar por recolher mais informações que vos vão ajudar nas missões seguintes. Antes de partir para a vossa missão, podem ainda aceder à Clearinghouse, um acesso ao mercado negro onde podem gastar os fundos que
ganham ou recolhem no terreno para comprar novas armas, equipamentos, ou ainda mais informações para as missões seguintes.

Um ponto seguramente alto de Alpha Protocol é a prestação vocal. É verdade que não é muito difícil recriar as vozes arrastadas de agentes secretos, mas o que foi gravado tem bastante qualidade e raramente soa mal.
Quanto à longevidade, este jogo atinge facilmente as 12 horas de jogo, mas este número consegue certamente duplicar, tendo em conta que o valor de repetição é enorme, pois nunca vão conseguir ver tudo o que está incluído em Alpha Protocol com apenas uma passagem.

Agora chega a altura em que é necessário explicar os pontos fracos de Alpha Protocol, e infelizmente ainda são bastantes. Para começar, este não é, sem dúvida, um dos jogos mais bonitos a nível visual desta geração. Apesar das personagens estarem bem criadas e credíveis, os cenários são um misto entre bons cenários e paisagens bonitas, complementados com fracas texturas aqui e ali, além de haver grandes compassos de espera e carregamentos que provocam arrastamentos na
entrada das texturas. A nível técnico, há também bastantes falhas: as protecções nem sempre funcionam como deve ser, os inimigos não são lá muito inteligentes e, além disso, por vezes ainda surgem alguns pop-ups ou até pop-ins. A consola acabou por me bloquear duas vezes durante toda a experiência, mas felizmente isto não foi uma situação problemática, pois o jogo costuma gravar constantemente.

Eis a altura do veredicto final. Para alguns, a nota final de Alpha Protocol vai levantar dúvidas sobre a qualidade final do jogo, outros vão duvidar claramente da nota. Sim, eu informei-me sobre Alpha Protocol e li algumas das críticas que destruíam ferozmente este título da Obsidian. O que posso dizer é que de forma alguma estamos perante um jogo incompleto. Pode não estar totalmente limado e alguns elementos podem não ser o expoente máximo do género, mas conseguiu oferecer uma experiência empolgante e altamente recompensadora. Além do mais, grande parte dos erros que encontrei em Alpha Protocol já existiam em outros jogos do género, mesmo em Mass Effect 2. É óbvio que os erros devem ser evitados nos jogos seguintes, mas poucos foram aqueles que se queixaram dos mesmos no passado.

Com uma jogabilidade acessível, um sistema de progressão inteligente e, acima de tudo, sendo um dos melhores jogos a usar um sistema de progressão de causa/efeito na história, Alpha Protocol foi uma das grandes surpresas do ano, tendo-me incentivado a acompanhar a história até ao fim. Está longe de ser um jogo perfeito, mas próximo de ser uma das experiências mais recompensadoras deste ano.


Fonte.http://ez.mygames.pt

Nenhum comentário:

Postar um comentário